Estudo aponta dados sobre impactos do uso nocivo de álcool
Estudo aponta dados sobre impactos do uso nocivo de álcool

Em publicação realizada no portal do Centro de Informação sobre Saúde e Álcool (CISA), através da 6ª edição da publicação Álcool e a Saúde dos Brasileiros – Panorama 2024, destacou, em capítulo especial, os impactos do uso nocivo de álcool entre a população branca e negra no país. Segundo os dados apresentados, a população negra – composta por pretos e pardos – foi a mais afetada pelas mortes totalmente atribuíveis ao consumo de álcool. Em 2022, essa população registrou 10,4 óbitos por 100 mil habitantes, enquanto a taxa para pessoas brancas foi de 7,9, o que representa cerca de 30% a menos.

Conforme informado na publicação, a diferença entre mulheres é ainda mais expressiva. Mulheres brancas apresentaram 1,4 óbito por 100 mil habitantes, contra 2,2 e 3,2 óbitos para mulheres pardas e pretas, respectivamente. De acordo com a coordenadora do CISA, a socióloga Mariana Thibes, essa disparidade não indica maior consumo de álcool pela população negra, mas evidencia desigualdades históricas de acesso a tratamentos de saúde, além do impacto do estresse gerado pela discriminação racial, que pode desencadear problemas físicos, emocionais e comportamentos de risco associados ao álcool.

O relatório aponta dados sobre internações totalmente atribuíveis ao álcool, mostrando que, em 2023, a taxa caiu para 27 internações por 100 mil habitantes, aproximadamente metade do registrado em 2010, quando houve 57 internações por 100 mil habitantes. No entanto, a prevalência de óbitos entre pessoas internadas dobrou no período, passando de 3% em 2010 para 6% em 2023, o que pode refletir o aumento do número de internações em quadros graves de dependência e complicações hepáticas.



Sobre o assunto, Danilo Piola, dono da Clínica de Recuperação Clínicas Vitale, afirmou que os dados apresentados pelo CISA reforçam a urgência de políticas públicas e estratégias de atenção à saúde mental que considerem não apenas o consumo de álcool, mas também os determinantes sociais que amplificam seus impactos. Danilo também disse que o aumento da mortalidade entre pessoas internadas, mesmo com a redução do número total de internações, sugere que a gravidade dos casos está crescendo, demandando intervenções mais integradas e para o futuro, é fundamental investir em programas de prevenção que unam educação, suporte psicossocial e acompanhamento médico contínuo, especialmente voltados para grupos mais vulneráveis. "A tecnologia e a telemedicina podem desempenhar um papel central na redução dessas desigualdades, ampliando o acesso a tratamentos de qualidade em regiões onde a assistência especializada ainda é limitada. A construção de redes de cuidado baseadas em dados confiáveis permitirá identificar padrões de risco e direcionar recursos de forma mais eficiente, evitando que quadros moderados evoluam para situações graves".

Ainda segundo os dados apresentados, a maioria das internações ainda ocorreu entre homens, especialmente na faixa etária de 35 a 54 anos. Entre pessoas com 55 anos ou mais, a proporção de internações aumentou de 22% em 2010 para 35% em 2023. As principais causas de internações atribuíveis ao álcool em 2023 foram a dependência de álcool e a doenção alcoólica do fígado, que juntas corresponderam a mais da metade dos casos.

O panorama também revela alterações nas tendências de óbitos atribuíveis ao álcool. Conforme informado na publicação, de 2010 a 2019, as mortes vinham diminuindo, atingindo o menor índice em 2019. Entretanto, a tendência foi interrompida pela pandemia, período em que as taxas de óbitos por alcoolismo e doenção alcoólica do fígado aumentaram, atingindo os maiores níveis de todo o período analisado até 2022.

O relatório aponta dados que reforçam a necessidade de políticas públicas voltadas à prevenção e ao tratamento do uso nocivo de álcool, com atenção especial às populações mais vulneráveis. A publicação completa, com dados regionais, metodologia e séries históricas, está disponível no site do CISA, oferecendo um panorama detalhado do impacto do álcool sobre a saúde da população brasileira.

Perguntado sobre o assunto, Danilo Piola afirmou que os dados apresentados revelam uma mudança no perfil das internações e óbitos atribuíveis ao álcool, especialmente entre a população mais idosa e que o aumento informado pode indicar que os efeitos do consumo nocivo do álcool podem se agravar com o envelhecimento, demandando atenção diferenciada no planejamento de políticas de saúde. "A experiência em clínicas especializadas, como a unidade da Clínica de Recuperação em Cuiabá, no Mato Grosso,  mostra que programas estruturados de acompanhamento médico e suporte psicossocial contribuem significativamente para reduzir complicações e reinserir os pacientes de forma saudável na sociedade".