O termo "gastos fantasmas" é usado para se referir a pequenas despesas recorrentes que passam despercebidas no dia a dia, como pedidos de delivery, assinaturas de streaming que permanecem ativas após o período de uso ou aplicativos cobrados automaticamente. Isoladamente, esses valores parecem inofensivos, mas podem causar impacto no orçamento mensal.
Para Mila Gaudencio, que é economista, educadora financeira e consultora do will bank, esses gastos são consequência de comportamentos específicos. "A grande questão no consumo é a nossa percepção de valor. O comportamento do consumidor nos mostra que pagar R$ 360 à vista ‘dói’ muito mais do que dividir em pequenas parcelas, porque a nossa mente prioriza o número menor. Esse é um dos padrões observados. Outro fator que faz o gasto passar despercebido é o débito automático. Essa automatização, somada à dificuldade de simplesmente cancelar uma assinatura já em vigor, reforça como tantos pequenos valores acabam se acumulando de forma silenciosa".
Um levantamento interno do will bank, banco digital com mais de 12 milhões de clientes em todo o Brasil, mostra que uma em cada quatro pessoas não consegue identificar todas as despesas da fatura do cartão de crédito ao fim do mês. "Muitos acreditam que se trata de um erro ou até mesmo de um golpe e entram em contato com o nosso time de atendimento. Mas, em sua maioria, são cobranças automáticas que o cliente esqueceu de cancelar. Um exemplo são aquelas assinaturas gratuitas nos primeiros 30 dias e que iniciam a cobrança já no mês seguinte".
Atenção é a principal aliada, segundo Mila, uma vez que ao final de um ano, os gastos fantasmas podem somar o equivalente a um salário mínimo no orçamento das famílias brasileiras, de acordo um levantamento realizado pela consultora.
Por que o dinheiro parece sumir?
O acúmulo desses valores ocorre de forma gradual. Se uma família assinar os principais serviços de streaming de TV simultaneamente, o custo pode ultrapassar R$ 250 por mês — ou pouco mais de R$ 3 mil por ano. O valor não aparece de uma vez, mas se esconde em pequenas parcelas mensais. "Isso é similar com os pedidos de delivery e até mesmo com os carros de aplicativo em que, muitas vezes, deslocamentos curtos com ‘precinhos’ somam uma quantia considerável no fim do mês. É o acúmulo das microdecisões que pesa no orçamento".
A organização financeira é apontada como elemento essencial. Dados do will bank mostram que 44% da sua base de clientes que tiveram alguma sobra de dinheiro no fim do mês, acreditam que poderiam evitar gastos se tivessem uma rotina mais organizada, economizando em deslocamento ou alimentação. A solução não é cortar tudo, mas trazer esses valores de volta para a consciência.
Olhando para esse cenário, Mila Gaudencio sugere cinco estratégias para prevenir o susto:
- Criar o limite dos invisíveis: definir um teto para pequenos gastos recorrentes (assinaturas, apps, delivery). Para assinar algo novo, primeiro cancele outro serviço.
- Revisar os débitos automáticos: uma vez por mês, abrir o extrato e procurar ativamente por cobranças recorrentes esquecidas.
- Associar gasto a uso real: questionar quanto um serviço foi utilizado no último mês. Se o uso foi baixo ou inexistente, a despesa deve ser reavaliada.
- Transformar o automático em consciente: optar por pagar manualmente algumas assinaturas em vez de deixá-las no débito automático. Isso devolve a "dor de pagar" e força a reflexão sobre o uso.
- Fazer um rodízio de streamings: priorizar um ou dois serviços por vez. Após concluir o conteúdo desejado, cancelar e assinar outro.
"A pergunta que fica é simples: o valor vale o espaço que ocupa na sua vida e no seu orçamento?".































