O mercado de tecnologia busca inovação, mas ainda carrega barreiras que dificultam o crescimento de mulheres no setor. Nesse cenário, após liderar projetos estratégicos ao longo de mais de 14 anos em empresas como Amazon, iFood e Itaú, Priscila França criou a Close the Gap: uma mentoria estruturada que une estratégia, posicionamento e influência e busca acelerar o protagonismo feminino e reduzir o gap de gênero na área de tecnologia.

De acordo com a executiva, o projeto nasceu da inquietação ao observar grandes talentos femininos sendo subestimados, ignorados ou silenciados em ambientes nos quais a competência, muitas vezes, não era suficiente.

“Além disso, a mentoria nasceu da ausência de programas que conectam estratégia, influência e clareza de identidade com foco no avanço real de mulheres em tecnologia. Eu criei essa metodologia com o objetivo de preencher essa lacuna de forma estruturada, prática e aplicável no dia a dia profissional”, detalha.



“Na prática, as participantes aprendem a traduzir suas conquistas em valor estratégico, ganhar clareza sobre sua trajetória e tomar decisões profissionais com mais influência e protagonismo”, explica Priscila.

De acordo com a especialista, apesar de recém-lançada, a Close the Gap tem chamado atenção por sua abordagem direta, estratégica e conectada com os desafios reais enfrentados por mulheres em tecnologia. “A mentoria foi estruturada com base em minha trajetória como uma das líderes no setor e vem se consolidando como uma metodologia autoral voltada à formação de lideranças femininas com intencionalidade e clareza”, afirma.

A Close the Gap é estruturada em quatro pilares que refletem os principais desafios enfrentados por mulheres na área de tecnologia que desejam crescer na carreira: clareza de identidade, posicionamento estratégico, rede de influência e maturidade para dar e receber feedbacks.

“Essas bases não são teóricas, mas são práticas, diretas e aplicáveis no dia a dia. Além disso, a mentoria inclui materiais complementares sobre LinkedIn, entrevistas e gestão financeira, afinal, construir uma carreira sólida também exige saber se posicionar, comunicar seu valor e tomar decisões com autonomia”, explica.

A especialista também destaca a importância de ter clareza acima de qualquer plano, pois compreender a própria trajetória e onde se quer chegar ajuda a ganhar foco e evita desperdício de tempo e energia.

“A autoridade é construída a partir desse lugar: quando você se posiciona com base no que já construiu, naquilo que entrega e na forma como contribui para o negócio. A consistência aparece quando esse posicionamento deixa de ser pontual e passa a fazer parte da sua estratégia profissional”, acrescenta.

Ainda de acordo com a empresária, a mentoria também aborda desafios emocionais e psicológicos, como a falta de autoconfiança e a síndrome da impostora — obstáculos que muitas mulheres enfrentam no ambiente corporativo.

“Não dá para falar de protagonismo sem falar de como a autopercepção de uma mulher é moldada dentro de estruturas que ainda não foram feitas para ela. Muitas mulheres incríveis duvidam de si mesmas, não porque falta capacidade, mas porque há anos escutam que precisam provar mais para valer o mesmo. A Close the Gap tem como objetivo resgatar essa percepção a partir da trajetória real de cada uma”, informa.

Segundo Caroline Amado, aluna que participou da mentoria em 2024, a Close the Gap representou uma virada de chave na forma como ela passou a se enxergar e se posicionar dentro da área de tecnologia. “Foi a primeira vez que entendi que minha trajetória tinha valor estratégico. Hoje eu tenho clareza do meu próximo passo e, principalmente, confiança para buscá-lo”, afirma.

Desafio de permanecer e crescer

Segundo dados de uma pesquisa da Serasa Experian, a participação feminina na área de tecnologia ainda é baixa, representando apenas 0,07% do total de profissionais do setor — o que equivale a aproximadamente 69,8 mil mulheres. O levantamento, que analisou um universo de mais de 93,3 milhões de mulheres, evidencia uma diferença expressiva em comparação aos homens, entre os quais 0,33% atuam no mercado de Tecnologia da Informação (TI). A pesquisa considerou um total de 92,4 milhões de homens no país.

Para Priscila, o maior desafio das mulheres que querem trabalhar na área de tecnologia não é entrar, mas sim permanecer, crescer e, acima de tudo, ser levada a sério. “Ainda temos um sistema que valoriza comportamentos historicamente masculinos como forma única de liderança, e mulheres que pensam diferente, que priorizam colaboração, escuta e profundidade, muitas vezes são subestimadas. A consequência é o desgaste e a saída prematura de muitas profissionais excelentes”, lamenta.

A executiva frisa a necessidade de colocar em prática todos os discursos feitos sobre o tema. Ela alerta para a urgência de as empresas repensarem suas estruturas e garantirem um ambiente no qual as mulheres possam se desenvolver, influenciar e tomar decisões.

“Isso passa por metas claras, lideranças comprometidas e uma cultura que pare de tratar inclusão como concessão. Quando a presença feminina é vista como estratégia e não como exceção, a mudança começa a acontecer de verdade”, analisa.

A mentoria, conforme explica Priscila, busca ir além de conselhos, trazendo estratégia, rede e acesso. “Quando uma mulher tem acesso a alguém que a ajuda a ler o jogo corporativo com mais clareza, ela não só cresce, como puxa outras com ela. Programas como o Close the Gap criam um efeito multiplicador: porque uma mulher que se vê e se posiciona com coragem transforma o ambiente à sua volta”, afirma Priscila.

Para a especialista, em um mercado onde os programas de carreira muitas vezes podem ignorar as barreiras estruturais enfrentadas por mulheres, a Close the Gap busca oferecer estratégia, método e resultados concretos, com potencial de redefinir o caminho de mulheres em tecnologia rumo a posições de maior influência e tomada de decisão.