Logística reversa é o conjunto de ações usadas para coletar e devolver resíduos ao setor empresarial para que sejam reaproveitados ou recebam uma destinação final ambientalmente adequada, segundo a Lei nº 12.305/2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Em 2020, o Decreto nº 10.240 regulamentou a logística reversa de resíduos eletroeletrônicos no país.
O Brasil é o quinto país que mais produz lixo eletrônico, com 2,4 milhões de toneladas anuais,conforme noticiado pelo Jornal Nacional. O Acordo Setorial para a Logística Reversa de Produtos Eletroeletrônicos, firmado em 2019, definiu metas para a cadeia produtiva e prevê que, até o final de 2025, haja coleta de 17% do volume colocado no mercado em 2018, ano base definido.
Sérgio Diniz, agente de coletas e porta-voz da entidade gestora de logística reversa sem fins lucrativos Ecobraz, afirma que a relevância atual da logística reversa de Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos (REEE) no Brasil é crítica e crescente por três razões principais.
Segundo ele, o aumento do consumo, baseado especialmente no ciclo de vida dos dispositivos — que caiu de dois a quatro anos — amplia o volume de descarte. O não cumprimento da logística reversa, conforme previsto na PNRS e no Decreto 10.240/2020, implica risco jurídico, Termos de Ajustamento de Conduta (TACs) e multas, e os materiais têm alto valor de mercado e importância estratégica.
"Os REEE contêm metais como ouro, prata, cobre, paládio e terras-raras, cuja recuperação reduz a dependência de importação e a volatilidade de preços. Nesse contexto, a logística reversa se consolida como um dos pilares ambientais mais relevantes do país hoje, tanto por risco quanto por oportunidade", explica o especialista.
Para o agente, os maiores desafios do Brasil para retorno, tratamento e destinação correta de REEE são a baixa capilaridade estrutural, a baixa adesção empresarial, a força do mercado informal, a desinformação do consumidor e o custo logístico elevado.
"Com poucos pontos de coleta e transporte especializado, especialmente fora das capitais, a operação adequada de REEE é dificultada. Sucateiros e recicladores irregulares podem desviar material, a maior parte dos usuários não sabe onde descartar ou acredita que o lixo eletrônico é lixo comum, e os custos de transporte dedicado são de três a seis vezes maiores que os do resíduo convencional, gerando risco ambiental e perda de rastreabilidade", acrescenta o porta-voz da Ecobraz.
Diniz aponta que o cumprimento da PNRS para eletroeletrônicos apresenta avanços concretos, entretanto, ainda persistem lacunas críticas. "A regulamentação específica, que estabelece metas, criação de sistemas coletivos e acordos setoriais é um marco, mas menos de 30% das empresas cumprem integralmente as metas, falta fiscalização contínua e efetiva, não existe rastreabilidade em nível nacional e a meta de 17% de coleta até 2025 ainda está distante da realidade".
Recuperação e destinação de REEE
De acordo com a edição de 2024 do relatório das Nações Unidas Monitor Global de Lixo Eletrônico, o mundo produziu 62 milhões de toneladas de resíduos eletrônicos em 2022. Desse total, 14 milhões de toneladas foram recolhidas e recicladas, o equivalente a 22,3%. A projeção indica que essa taxa deve cair para 20% até 2030, já que a geração de lixo eletrônico cresce em ritmo superior aos esforços globais de reciclagem."A destinação incorreta de resíduos eletroeletrônicos aumenta riscos ambientais e de saúde já comprovados. A contaminação por metais pesados, como chumbo, cádmio, mercúrio e níquel, afeta solo e água e pode persistir no ambiente por décadas. Além disso, riscos ocupacionais surgem quando a queima e o desmonte informal liberam dioxinas, furanos e partículas tóxicas", detalha o especialista.
O profissional ressalta que o impacto sobre os ecossistemas se manifesta na bioacumulação desses metais em plantas, animais e na cadeia alimentar, e os riscos diretos à população podem incluir doenças neurológicas, respiratórias, renais e alterações decorrentes da exposição a esses resíduos.
"A má gestão de resíduos eletroeletrônicos contribui para impactos ambientais relevantes. A contaminação do solo e das águas subterrâneas ocorre quando lixões e aterros mal operados liberam metais pesados por infiltração. A queima informal de fios e placas provoca emissão de poluentes, incluindo dioxinas e compostos orgânicos persistentes", reforça Diniz.
De acordo com o agente, a logística reversa formal permite recuperar entre 80% e 95% dos materiais presentes em REEE, dependendo da categoria. Metais como ouro e prata podem ser até cem vezes mais concentrados em placas eletrônicas do que em minérios naturais, enquanto a recuperação de cobre apresenta média superior a 90%. Plásticos técnicos apresentam reciclabilidade entre 40% e 70% quando segregados corretamente.
Atuação da Ecobraz na logística reversa
A Ecobraz atua com objetivo de fortalecer a cadeia de logística reversa totalmente licenciada e rastreável, conforme a PNRS, abrangendo coleta, transporte, triagem, descontaminação e destinação final.
A empresa conecta fabricantes, distribuidores, empresas, consumidores e governo por meio de um modelo de operação circular, centralizado em logística, coleta e triagem para que cada elo cumpra sua função legal.
A entidade sem fins lucrativos também apoia a educação do consumidor e a instalação de pontos de entrega, promovendo campanhas de orientação, e fornece relatórios e dados com métricas e indicadores ambientais para Environmental, Social and Governance (ESG ou Ambiental, Social e Governança), compliance e auditorias.
Para mais informações, basta acessar: ecobraz.org/

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Nascido em Oliveira de Azeméis, no norte de Portugal, Monteiro cresceu em uma família ligada ao setor de moldes e plásticos. A base técnica foi consolidada na Universidade do Porto, onde se formou em Engenharia Mecânica. O primeiro passo na indústria ocorreu na Simoldes Aços, em projetos para montadoras europeias e em estudos sobre processos de moldagem, o que o aproximou de cadeias globais do setor automotivo.
O percurso para o empreendedorismo começou cedo. Ainda em Portugal, criou a Plastic & Tooling Concept, voltada ao desenvolvimento de moldes e de produtos plásticos. O negócio, porém, não resistiu à combinação de crise econômica e concorrência com soluções não licenciadas, situação relatada por diversos fornecedores de software industrial na Europa no período pós-crise financeira. O encerramento da empresa levou o engenheiro a um período de reavaliação profissional e à decisão de buscar novos caminhos fora do país de origem.
O México foi o primeiro grande recomeço. Monteiro passou a atuar como projetista freelancer, atendendo empresas ligadas à indústria automotiva e estruturando o trabalho a partir de um escritório montado em casa. O modelo enxuto permitiu retomar projetos na área em que tinha experiência, ao mesmo tempo em que exigiu adaptação a outra cultura empresarial e a diferentes formas de contratar serviços de engenharia.
Anos depois, uma nova mudança de rota o levou ao Brasil. A entrada no mercado brasileiro não foi imediata: questões burocráticas, ausência de rede de contatos e diferenças regulatórias criaram obstáculos iniciais. A inserção ocorreu por meio de uma empresa de serviços de engenharia voltada à indústria automotiva, em projetos em grandes plantas no Nordeste. A partir daí, o engenheiro passou a atuar na gestão de equipes multiculturais e em iniciativas de integração entre times de diferentes países.
Em 2006, a decisão foi abrir o próprio grupo de engenharia, inicialmente a partir de casa, origem da empresa que mais tarde passaria a se chamar LUZA. A expansão do portfólio, a formação de equipes técnicas em diferentes localidades e a assinatura de contratos com montadoras globais contribuíram para consolidar a atuação internacional. A trajetória acompanha um movimento mais amplo do setor, em que empresas especializadas em serviços técnicos passaram a ocupar papel relevante em cadeias globais de fornecimento.
Esse contexto não é isolado. Relatório da consultoria Research and Markets estima que o mercado global de serviços de TI foi avaliado em cerca de 1,5 trilhão de dólares em 2024 e pode alcançar aproximadamente 2,59 trilhões de dólares até 2030, com taxa média de crescimento anual de 9,4%, impulsionado por computação em nuvem, automação e cibersegurança. Já a Organização Mundial da Propriedade Intelectual (WIPO) indica que o gasto mundial com software atingiu cerca de 675 bilhões de dólares em 2024, quase 50% acima do nível observado em 2020, movimento associado à digitalização de processos e à adoção de inteligência artificial em diversos setores.
Foi nesse ambiente que Monteiro adotou, a partir da pandemia de Covid-19, um modelo de equipes distribuídas, conectando profissionais de engenharia e TI em diferentes regiões. A experiência, inicialmente adotada como resposta emergencial às restrições de mobilidade, passou a integrar a estratégia de longo prazo da organização. Hoje, a empresa atua com alocação de especialistas e desenvolvimento de projetos em setores como mobilidade, energia, telecomunicações, tecnologias da informação, mineração, agronegócio, ciências da vida e defesa, em parceria com companhias de médio e grande porte.
A história do engenheiro português também chama atenção pela combinação de formação técnica, recomeços sucessivos e uso das estruturas digitais que se consolidaram nos últimos anos. Em vez de uma trajetória linear, o que se observa é uma sequência de ajustes de rota em resposta a crises econômicas, mudanças de país e transformações do próprio setor. Esse tipo de percurso tem se tornado mais frequente em áreas ligadas à engenharia e tecnologia, em que carreiras internacionais e projetos distribuídos entre várias localidades deixam de ser exceção.
Influenciado por referências familiares e por figuras ligadas ao esporte de alto rendimento e ao empreendedorismo, Monteiro costuma resumir essa trajetória em torno de conceitos como disciplina, resiliência e visão de longo prazo. Para ele, resultados sustentáveis tendem a surgir da combinação entre conhecimento técnico, caráter e capacidade de aprender com ciclos de tentativa e erro. Em um contexto em que a demanda por profissionais qualificados cresce mais rápido do que a oferta, histórias com esse perfil ajudam a ilustrar os desafios e as oportunidades da engenharia na próxima década.
Sobre a LUZA
A LUZA é uma empresa multinacional de engenharia e tecnologia, originada da antiga PTC Group, fundada em 2006. A companhia atua com alocação de especialistas e desenvolvimento de projetos em engenharia e TI, em modelos que vão desde a prestação de serviços sob demanda até entregas turnkey. Com operações no Brasil, Portugal e outros países, está presente em setores como mobilidade, energia, telecomunicações, tecnologias da informação, mineração, agronegócio, ciências da vida e defesa, conduzindo iniciativas que envolvem desenvolvimento de produto, testes, integração de sistemas e otimização de processos industriais.