Medicamentos ampliam opções no tratamento da obesidade
A obesidade, caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura no corpo, é uma doença crônica associada a diversas complicações de saúde, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, alterações hormonais e maior risco de alguns tipos de câncer, conforme apontado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
O diagnóstico leva em conta o índice de massa corporal (IMC), calculado com base no peso e na altura, podendo ser complementado por outras medidas, como a circunferência abdominal. A obesidade é uma doença multifatorial, que inclui fatores genéticos, ambientais e de estilo de vida.
Dr. Manoel Quintino, médico nutrólogo da Clínica Alma, avalia que o cenário da obesidade passa por uma transformação significativa com o avanço das alternativas terapêuticas, especialmente por meio de medicamentos como a tirzepatida e semaglutida.
“É uma mudança de paradigma no manejo da obesidade. O impacto desses medicamentos tem sido revolucionário, pois representam uma nova geração que vai muito além do controle glicêmico, oferecendo perdas de peso próximas às alcançadas por intervenções cirúrgicas”, pontua o especialista.
Segundo o médico, esses medicamentos permitem uma abordagem mais personalizada e escalonada no tratamento da obesidade. Ele esclarece que, até então, a cirurgia bariátrica era a principal opção para pacientes com obesidade grau II com comorbidades ou grau III, mas agora há uma alternativa farmacológica antes da intervenção cirúrgica.
“Para muitos pacientes, especialmente aqueles com obesidade menos severa ou que apresentam contraindicações cirúrgicas, os medicamentos representam uma linha de tratamento eficaz. Em alguns casos, podem até preparar melhor o paciente para uma eventual cirurgia, reduzindo riscos operatórios”, conta Dr. Manoel Quintino.
O especialista explica que, especialmente a tirzepatida, tem um mecanismo de ação simultânea nos receptores GLP-1 e GIP. A dupla ação regula apetite, saciedade e metabolismo da glicose, aumentando a perda de peso. O médico destaca que os medicamentos oferecem proteção cardiovascular e neurológica, prevenindo complicações graves além da perda de peso.
Um estudo publicado no The New England Journal of Medicine mostra que a tirzepatida promove perda média de 20,2% do peso corporal em 72 semanas, enquanto a semaglutida alcança 13,7% no mesmo período. Os resultados superam significativamente os medicamentos anteriores para obesidade, que geralmente proporcionam redução entre 5% e 10%.
Especificidades do tratamento medicamentoso
Segundo o nutrólogo da clínica Alma, as contraindicações são histórico pessoal ou familiar de carcinoma medular de tireoide, síndrome de neoplasia endócrina múltipla tipo 2, pancreatite aguda ou crônica e possível impacto nos rins em pacientes predispostos.
“Os efeitos colaterais mais comuns são gastrointestinais — náuseas, vômitos, diarreia e constipação — que são proporcionais à dose e tendem a diminuir com o tempo, embora possam limitar o tratamento em alguns casos. Por isso, o ajuste progressivo da dose é fundamental para minimizar esses efeitos”, pontua o profissional.
O Dr. Manoel Quintino ressalta que o acompanhamento multidisciplinar é ainda mais crucial no tratamento medicamentoso da obesidade. Para ele, pacientes que recebem acompanhamento multidisciplinar apresentam não apenas melhores resultados em termos de perda de peso, mas também maior satisfação com o tratamento e melhor qualidade de vida global.
“O acompanhamento nutricional é essencial para que, mesmo com a redução do apetite causada pela medicação, a qualidade da alimentação seja mantida. O suporte psicológico atua nos fatores emocionais e comportamentais envolvidos na obesidade. Já o médico monitora o quadro clínico, ajusta doses e avalia possíveis efeitos colaterais ou comorbidades”, lembra o especialista.
O nutrólogo lembra que a suspensão da medicação, sem planejamento e mudanças importantes no estilo de vida, costuma levar a um reganho de peso, já que a obesidade envolve alterações nos mecanismos que regulam apetite, saciedade e metabolismo. Segundo ele, os medicamentos corrigem esses desequilíbrios de forma temporária, por isso o período de uso deve ser aproveitado para criar novos hábitos e tratar comorbidades.
“Na prática clínica, esses medicamentos são usados como terapia de manutenção a longo prazo, como em hipertensão ou diabetes. Para quem deseja ou precisa interromper, é aplicado protocolo de descontinuação gradual, com acompanhamento nutricional e psicológico intensificado e, quando necessário, estratégias farmacológicas complementares”, revela Dr. Manoel Quintino.
Difusão e acesso às terapias medicamentosas
De acordo com o especialista, diversos fatores convergem para tornar essas terapias mais acessíveis e amplamente utilizadas. Segundo ele, há uma pressão crescente dos sistemas de saúde para incorporar esses medicamentos e uma mudança na percepção da obesidade como doença crônica que merece tratamento farmacológico adequado.
“Agências regulatórias e operadoras de saúde estão gradualmente reconhecendo a importância desses medicamentos, expandindo sua cobertura. Acredito que nos próximos cinco anos, esses medicamentos se tornarão tão comuns no tratamento da obesidade quanto os para dislipidemia ou hipertensão”, avalia o especialista.
Segundo o Dr. Manoel Quintino, a tirzepatida e a semaglutida são apenas os primeiros representantes de uma nova classe de medicamentos e já estão em desenvolvimento moléculas com tripla ação (GLP-1, GIP e glucagon), medicamentos orais com eficácia similar aos injetáveis e combinações farmacológicas que prometem resultados expressivos.
O nutrólogo reforça que é preciso desmistificar o estigma associado ao tratamento medicamentoso da obesidade, ressaltando que ele deve ser sempre individualizado e conduzido por profissionais especializados. “Pacientes interessados devem buscar avaliação médica adequada para determinar a melhor abordagem terapêutica para seu caso”, alerta.