Advogada brasileira participa de projetos internacionais
Advogada brasileira participa de projetos internacionais

A brasileira Mariana Amaral tem demonstrado como a faculdade de Direito, que fez no Brasil, a ajudou a entrar num “big law” americano, que são os grandes escritórios de advocacia dos Estados Unidos. Além do curso jurídico, outro diferencial foi o inglês, língua com a qual convive desde os 8 anos; pois, já nessa idade, sabia que idiomas abrem portas. 

Formada no bacharelado, o caminho parecia óbvio com estágio, OAB, carreira em escritórios brasileiros. Mas os cinco anos de faculdade no Brasil se transformaram em trampolim para os Estados Unidos.

A primeira opção poderia ter sido o Master of Laws (LLM), que é o caminho escolhido por muitos brasileiros, onde o curso é feito em um ano e permite especialização em estados como Nova York e Califórnia, oferecendo elegibilidade ao exame da ordem. Mas Mariana Amaral optou pelo Juris Doctor (JD), formação de três anos que habilita de forma ampla para exercer a advocacia nos Estados Unidos e abre portas nos grandes escritórios. Primeiro, ela precisava passar pela prova padronizada que seleciona candidatos às faculdades de Direito nos Estados Unidos — o “Law School Admission Test”. Depois, ela mapeou universidades e buscou bolsa de mérito. 



Uma das respostas veio de Atlanta, na Geórgia, onde foi aprovada na Emory University School of Law, escola de alto rendimento que reporta mais de 90% de empregabilidade e ficou em 38º lugar no ranking geral de 2025 da U.S. News.

No primeiro verão, os estudante de JD, passam pelo desafio inicial do “big law”, via programa de estágio (summer associate). O caminho para avançar nesta fase exige notas altas, boa prática de escrita, além das entrevistas que testarão raciocínio e repertório dos candidatos. Mariana recebeu uma oferta do Hogan Lovells, um dos grandes escritórios globais, com sede em Washington, capital estadunidense, onde o escritório tem tradição centenária e concentra as maiores equipes.

Ao longo do verão, viveu um circuito real de testes com rotação entre equipes, tarefas cronometradas e devolutivas rápidas. Num dia, varredura de due diligence, que são investigações prévias sobre um determinado temaem contratos de construção e operação; no outro, um primeiro rascunho de cláusula de garantias e um memorando sobre risco regulatório em transmissão de energia. Tudo com mentoria de um associado responsável e de um sócio. 

Em 2019, já em D.C., a advogada brasileira foi contratada como associada de infraestrutura e energia. Sua agenda virou um mosaico de modelagens de risco e cronogramas de fechamentos de contratos. “Quando a gente fecha um contrato, não é só papel assinado. São horas de acordos e cálculos”, revela.

Já contratada, faltava o bar exam (exame da ordem) de D.C. e Nova York. Logo na primeira tentativa, o resultado foi positivo.

A formação como advogada no Brasil conferiu a Mariana Amaral a disciplina para aprender a pensar por códigos e a doutrina da escuta treinada, capaz de resolver divergências antes que explodam. Nos Estados Unidos, aprendeu a lógica dos precedentes, a objetividade do drafting (rascunhos), e a cultura de retornos contínuos. Em reuniões com clientes europeus que investem no Brasil, ela traduz riscos regulatórios de um lado e prazos de agência do outro, reduz mal-entendidos e poupa horas — e zeros — de uma negociação que poderia degringolar. Para ela, ser bilíngue em sistemas jurídicos não é um verniz no currículo, é uma ferramenta de trabalho.

Entre o fechamento de um contrato e outro, abriu espaço para aquilo que a sustentou na travessia, o pro bono e a mentoria de mulheres. Participa de grupos internos que conectam profissionais estrangeiras e conduzem conversas francas sobre maternidade possível numa carreira de altíssima demanda. Nada de discurso motivacional pronto. Ela fala de negociar rede de apoio e de combinar expectativas com liderança. “Ninguém performa em duas línguas e dois sistemas de direito só à base de café. É preciso montar uma vida que te sustente”, diz.

Perguntam muito a Mariana qual é o segredo para entrar em um “big law”. “Não existem atalhos. O importante é estudar muito, tomar notas de tudo, aprender a pedir retorno das tarefas que realiza, fazer networking e treinar o máximo possível o inglês para além da gramática, lendo contratos, assistindo audiências, escrevendo todo dia”, revela. Sobre medo, ela é honesta: “Dá medo, claro. O medo de errar uma vírgula que muda um preço, de ter esquecido um precedente e até de não ser ‘suficiente’ numa sala cheia de nativos. Mas o medo mantém você atenta, montando planos B e C, estudando sempre”, diz. 

O mais importante é que cada contrato finalizado indica que todo o trabalho surtiu efeito, por exemplo, com o início de um canteiro de obras, uma cadeia de fornecedores que começa a operar e até mesmo uma comunidade que passa a ter eletricidade. A história de Mariana não é só sobre uma brasileira que venceu num mercado seletivo. É sobre como uma carreira pode se tornar ferramenta concreta de transformação, quando técnica, propósito e coragem se alinham na mesma linha do contrato.