Demissões e redes sociais ameaçam imagem das empresas
Demissões e redes sociais ameaçam imagem das empresas

Uma demissão pode ser o início de uma crise de imagem. O que antes ficava restrito aos corredores da empresa, hoje rapidamente se espalha pelas redes sociais, influenciando a percepção pública e o futuro da marca empregadora. Essa é uma das conclusões do estudo “Como as demissões impactam a cultura organizacional”, conduzido pela INTOO, unidade de desenvolvimento de carreira e recolocação da Gi Group Holding, em parceria com a Workplace Intelligence.

O levantamento entrevistou 1.100 líderes de Recursos Humanos e 1.100 empregados em tempo integral na Argentina, Brasil, Itália, Reino Unido e Estados Unidos. A pesquisa revela que 71% dos colaboradores não voltariam a trabalhar na empresa que os demitiu, e que metade deles já realizou alguma ação com potencial de prejudicar o antigo empregador, como publicar críticas nas redes sociais ou desaconselhar amigos e familiares a trabalhar no local.

As mídias sociais transformaram as demissões em episódios públicos. O estudo mostra que 65% dos líderes de RH temem manifestações online, e 49% das empresas já sofreram algum tipo de retaliação digital. Plataformas como LinkedIn, TikTok e Glassdoor se tornaram espaços de exposição de práticas de RH, aproximando o tema das discussões sobre transparência e cultura organizacional.



“As demissões, quando mal administradas, representam sérios riscos à reputação e à cultura de uma empresa. Mesmo quando as demissões são inevitáveis, a forma como são conduzidas faz toda a diferença. Transparência, empatia e suporte adequado reduzem riscos de perda de confiança e protegem a imagem da empresa no mercado”, afirma Candice Gentil Fernandes, business manager da divisão no Brasil.

O comportamento da geração Z reforça esse novo cenário. Um em cada quatro jovens afirma que manifestaria publicamente sua insatisfação caso fosse demitido. De acordo com o estudo, essa postura reflete uma mudança cultural: as relações de trabalho são vistas também como extensão da identidade pessoal, e os valores corporativos, ou a falta deles, se tornam parte do discurso público.

Internamente, o reflexo é igualmente sensível. O estudo aponta que 62% dos profissionais que permaneceram na empresa após cortes relataram perda de confiança na liderança, o que amplia o desgaste reputacional e compromete o engajamento das equipes.

Como prevenir retaliações e preservar a reputação

Segundo o estudo, 58% dos líderes de RH acreditam que suas organizações poderiam fazer mais para prevenir retaliações online após demissões. A saída está em proteger a cultura e a reputação por meio de transições bem conduzidas, com atenção especial à recolocação profissional.

A grande maioria dos entrevistados reconhece o valor desse tipo de apoio: 88% dos líderes de RH e 86% dos funcionários acreditam que os serviços de recolocação devem ser oferecidos aos colaboradores desligados. O consenso sobre sua importância é ainda maior — 94% dos líderes e 87% dos funcionários consideram esses programas essenciais.

Apesar disso, o acesso ainda é limitado. Em média, apenas um terço das empresas no mundo inclui serviços de recolocação como parte do pacote de demissão. No Brasil, o índice sobe para 48%, enquanto nos Estados Unidos e Reino Unido, mais de quatro em cada dez organizações oferecem esse benefício.

O apoio, segundo o estudo, tem efeito direto na redução de danos reputacionais. Ele ajuda os profissionais a superarem o impacto emocional da demissão e reduz o sentimento negativo em relação ao antigo empregador, especialmente quando há orientação para a busca de um novo trabalho. Mesmo assim, 51% dos colaboradores afirmam que precisariam de muita ajuda para se preparar e procurar emprego novamente, e 42% dizem não saber a quem recorrer para revisar o currículo ou obter suporte durante a transição.

Para Candice, proteger a reputação da empresa depende de coerência e cuidado. “Uma cultura que apoia as pessoas contribui para um futuro mais robusto, mesmo para aqueles que saem. Quando as empresas comunicam com cuidado e oferecem recursos úteis, como serviços de recolocação de alta qualidade, elas não estão apenas apoiando quem sai, mas também protegendo a cultura e a marca”, completa.