Nos últimos anos, a saúde mental tornou-se um dos temas mais debatidos globalmente, especialmente após a pandemia de covid-19. No Brasil, o assunto também tem sido amplamente discutido no mercado de trabalho, e não é para menos: dados de 2024 do Ministério da Previdência Social mostram mais de 470 mil afastamentos do trabalho devido a transtornos mentais. O maior número dos últimos dez anos.

Apesar da crescente atenção que as organizações têm dado ao tema, na prática, isso tem sido pouco percebido. Segundo um recente levantamento do Conselho Regional de Administração de São Paulo – CRA-SP, a maioria dos respondentes (60,2%) afirmou que a empresa onde trabalha não possui apoio psicológico de forma profissional, embora considere isso importante. Apenas 15,7% deles disseram ter esse acesso com facilidade.

O estudo, que ouviu 429 profissionais de Administração entre os dias 14 de abril e 5 de maio, identificou outro fato preocupante: quase metade dos respondentes (48,1%) acredita que a empresa onde trabalha não valoriza a saúde mental dos seus colaboradores.



Ao serem questionados sobre suas expectativas em relação a maior atenção das empresas à saúde mental nos próximos anos, apenas 14% dos respondentes não acreditam em uma mudança de cenário. Entretanto, 47,8% dos profissionais acham que essa maior atenção acontecerá apenas por obrigação da legislação.

Regulamentação adiada

Embora a necessidade de estabelecer regras que preservem a saúde mental dos trabalhadores seja urgente, nem sempre é fácil tirar isso do papel. O Ministério do Trabalho e Emprego havia anunciado a atualização da NR-1, norma que estabelece as diretrizes gerais sobre saúde e segurança no ambiente do trabalho, e que, agora, passaria também a fiscalizar e multar as empresas que não adotassem as medidas contra riscos psicossociais.

No entanto, a regulamentação que entraria em vigor no dia 26 deste mês de maio foi adiada. Ao longo deste ano, a atualização terá apenas caráter educativo e orientativo e a nova data de implementação das regras está prevista para acontecer em 25 de maio de 2026. 

No levantamento realizado pelo CRA-SP, ao serem questionados sobre o conhecimento da norma e sua alteração, 40,6% dos respondentes disseram que já haviam ouvido falar, mas não sabiam detalhes; outros 35% disseram entender do que se tratava e os outros 24,5% disseram não saber a respeito. 

Trabalho x estresse

Ainda de acordo com o levantamento, 54,6% dos profissionais disseram que o estresse no trabalho acontece sempre ou frequentemente. Entre os fatores que mais contribuem para isso, os respondentes apontaram três principais motivos: carga excessiva de trabalho (42,2%), burocracia nos processos (32,6%) e ambiente tóxico (29,1%). A complexidade tecnológica atual foi o item menos apontado, com apenas 7% das respostas.

Além disso, para 32,6% dos profissionais ouvidos o ambiente de trabalho prejudica, sim, a saúde mental. Outros 38,9% afirmaram que isso acontece parcialmente.

Por fim, quase metade dos respondentes (47,4%) afirmou que sintomas como insônia, ansiedade, irritação ou cansaço extremo por causa do trabalho acontecem sempre ou frequentemente. Entretanto, apenas 21% dos profissionais afirmaram que já se afastaram do trabalho por questões relacionadas à saúde mental.

O levantamento “Profissionais da Administração e a saúde mental” faz parte de um projeto institucional do CRA-SP que visa entender melhor a percepção dos seus registrados sobre temas em evidência na sociedade. Os resultados deste e de outros estudos estão disponíveis na íntegra no site do Conselho.