O cenário da psicologia hospitalar em 2025 tem revelado grandes inovações com o avanço da tecnologia em ambientes de reabilitação, especialmente em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), contudo, o cenário ainda revela desafios relacionados ao enfrentamento das sequelas cognitivas após a COVID-19. No Annual Meeting da American Academy of Neurology (AAN) 2025, uma mesa foi dedicada a explorar os principais e mais recentes estudos sobre as sequelas neurológicas, especialmente cognitivas, atribuídas à COVID-19, como o “brain fog” que engloba queixas de esquecimento, desatenção e dificuldade de concentração. Estudos nos Estados Unidos revelam que 1% de todos os adultos foram significativamente impactados pela COVID longa, e 24% dos infectados persistem com a condição e grau de incapacidade.
No que diz respeito às inovações, as tendências para a neuropsicologia em 2025 indicam uma forte convergência entre tecnologia e intervenção clínica, com a realidade virtual (RV), o uso da telessaúde e a gamificação ganhando destaque como ferramentas para o tratamento de diversas condições neurológicas e psiquiátricas, conforme apontado por especialistas. Além disso, especialistas afirmam que o futuro da neurorreabilitação passa pelo uso da inteligência artificial (IA) para otimizar diagnósticos e tratamentos. A IA pode ser uma ferramenta com potencial de revolucionar o diagnóstico e a personalização dos programas de reabilitação, permitindo um acompanhamento mais preciso.
Neste contexto de desafios e inovações hospitalares tecnológicas, a psicologia hospitalar surge como um pilar fundamental para a humanização do cuidado e o bem-estar do paciente em ambientes de saúde. Sua atuação abrange o suporte emocional, a reabilitação cognitiva e a promoção de estratégias de enfrentamento para pacientes, familiares e equipes de saúde. Para a psicóloga hospitalar e pesquisadora em neuropsicologia Larissa Teodora Genaro, doutora pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com intercâmbio sanduíche na faculdade McGill (Canadá), no Brasil e no mundo, a neuropsicologia dentro do campo hospitalar tem um papel central em minimizar o sofrimento e otimizar a recuperação funcional dos pacientes, integrando novas tecnologias e abordagens multidisciplinares para um cuidado mais eficaz e acessível. “A presença de profissionais especializados em neuropsicologia em ambientes hospitalares é crucial para integrar as demandas psicológicas e cognitivas ao tratamento médico global, otimizando a recuperação e a qualidade de vida,” afirma Larissa, que possui mais de 15 anos de experiência em avaliação e reabilitação neuropsicológica.
Conforme a Physiopedia, um dos desafios em ambiente hospitalar é o Delirium, uma complicação caracterizada por mudanças no estado mental, de forma aguda e flutuante que pode levar a pensamento desorganizado, desatenção e distúrbios da sensopercepção. Estudos indicam que até 83% dos pacientes em ventilação mecânica na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) podem desenvolver Delirium. Para Larissa Genaro, a persistência das sequelas cognitivas pós-COVID-19 e a alta incidência do Delirium em UTIs representam um chamado urgente à inovação na neuropsicologia hospitalar. “Ainda estamos compreendendo a dimensão completa do impacto da COVID-19 no cérebro e a complexidade do Delirium em pacientes críticos,” comenta.
Estudos apontam que dentre as sequelas do coronavírus Sars-CoV-2 estão vários efeitos neurológicos e que pacientes internados por longos períodos podem desenvolver quadros de Delirium com consequências negativas a médio e longo prazo, como dificuldade de atenção e perda de memória. Na percepção de Larissa, esses dados confirmam que déficits persistentes demandam frequentes avaliações, planos de intervenção estruturados e monitoramento contínuo. “Ao equipar hospitais com recursos de neuropsicologia e ferramentas tecnológicas, podemos reduzir a carga de sequelas cognitivas e acelerar a alta hospitalar, contribuindo para sistemas de saúde mais eficientes,” sugere.
No Brasil, iniciativas que visam mitigar esses riscos relacionados ao Delirium têm ganhado espaço em hospitais que investem em inovação clínica e humanização. Segundo Larissa, é necessário desenvolver protocolos de avaliação e reabilitação que considerem a complexidade e a cronicidade das sequelas hospitalares. “Criar soluções tecnológicas com base em exercícios exclusivos, adaptáveis à rotina hospitalar e acessíveis às equipes que trabalham dentro desse tipo de instituição, é fundamental para que a estimulação cognitiva se torne parte da assistência multiprofissional diária,” explica Larissa, que coordenou o projeto de iniciativa do treino cognitivo à beira do leito para idosos hospitalizados (COG-GER) na Clínica São Vicente Rede D´or São Luiz.
Em 2022, Larissa foi homenageada pelo Conselho Federal de Psicologia com menção honrosa na premiação “Práticas Inovadoras no Exercício da Psicologia”, pelo desenvolvimento do protocolo pioneiro de treinamento cognitivo digital para idosos hospitalizados. Em 2025, outro trabalho que ganhou repercussão nacional foi seu artigo científico “Visita de crianças em unidade de terapia intensiva” publicado em setembro de 2010. Essa pesquisa foi base teórica do Projeto de Lei 9990/18 apresentado pela deputada Carmen Zanotto. O projeto virou lei e alterou o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) para assegurar o direito de visitas hospitalares a crianças e adolescentes. No ano anterior, um capítulo de sua autoria sobre luto em UTIs adultas foi incluído como referência teórica no concurso de residência em psicologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
Em um cenário onde o envelhecimento populacional e a sobrecarga hospitalar são tendências irreversíveis, a neuropsicologia hospitalar se posiciona como área estratégica para a saúde pública. Larissa Genaro defende que é possível inovar com ética, ciência e sensibilidade, promovendo não apenas a recuperação física, mas também a integridade cognitiva emocional dos pacientes. “Reabilitar o cérebro é, acima de tudo, resgatar a autonomia, a dignidade e a capacidade de viver plenamente após a internação,” finaliza.