Estudo da Stellarix, consultoria internacional de inovação e estratégia com sede na Índia, mostra que, apesar do uso crescente de alternativas artificiais ou naturais ao açúcar em bebidas, ainda há uma grande distância para alcançar a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), de menos de 5% desse tipo de carboidrato na ingestão de energia por pessoa.

Conforme a consultoria, adoçantes artificiais e naturais têm sido usados para reduzir o teor de açúcar e calorias em bebidas que exigem doçura intensa. No entanto, essas características se mostraram insuficientes para substituir completamente os açúcares ou reduzir sua adição nas bebidas.

O processo é mais complexo, pois não se trata meramente de substituir um carboidrato por outro com menos calorias. O estudo da Stellarix explica que o açúcar não é apenas um adoçante. Ele também desempenha um papel fundamental na sensação na boca e no sabor agradável associado às bebidas doces.



“Os substitutos podem reiterar a doçura do açúcar, mas o sabor adstringente e a sensação na boca alterada são um desafio que reduz o apelo das bebidas em questão”, pontuou o estudo da consultoria. “Adotar um perfil menos doce é uma complicação que precisa ser equilibrada com sabor e sensação na boca”.

Mesmo que os consumidores estejam dispostos a comprar bebidas com baixo teor de açúcar ou sem açúcar, de acordo com a Stellarix, seu perfil de sabor permanece condicionado ao excesso de doçura a que estão acostumados. Portanto, diagnosticou o estudo da consultoria, ao adotar a substituição do insumo, há o risco de redução de vendas, estagnação ou perda de vantagem competitiva.

Ainda assim, a Stellarix estima que o mercado de bebidas sem açúcar alcance US$ 24,46 bilhões até o final desta década, com uma taxa média de crescimento anual de 46,94%.

Ao gosto do freguês

A consultoria propõe como solução trabalhar no sabor e personalizá-lo de acordo com as mudanças nas expectativas dos consumidores em todo o mundo. Afastar-se da doçura, avalia a Stellarix, abre uma janela para a introdução de perfis de sabor complexos, que podem ser azedos e doces ou salgados e doces ao mesmo tempo.

A crescente aceitação de novas bebidas como kombuchá, kvass, tepache e kefir, nos Estados Unidos e na Europa, endossa essa mudança na percepção dos consumidores, diz o estudo da consultoria. Também abre a oportunidade de melhorar o perfil nutricional dessas bebidas por meio da introdução de ingredientes funcionais em categorias de bebidas relacionadas.

Novas tecnologias e sistemas de adoçamento também estão sendo empregados para esse fim. A Stellarix cita o exemplo da Nestlé. A empresa criou um método para converter o açúcar em fibras prebióticas, reduzindo seu teor em 50% sem comprometer o sabor. Da mesma forma, a Givaudan desenvolveu ingredientes que conferem doçura perceptiva com o emprego de adoçantes alternativos em produtos alimentícios e bebidas. A empresa conseguiu reduzir o teor de açúcar em 50% em todas as suas categorias de bebidas.

Biodiversidade brasileira

O movimento não passou despercebido no Brasil. A Tial, fabricante mineira de sucos naturais sem conservantes, por exemplo, reduziu gradativamente o teor de açúcar de suas linhas de bebidas mistas, para que os consumidores não estranhassem mudanças no paladar, conta Victor Wanderley, CEO da companhia. Hoje, é uma das empresas dispensadas do selo de alerta da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que indica alto teor de açúcar.

“É preciso encontrar o caminho do equilíbrio na produção sustentável em larga escala de bebidas e alimentos”, diz. Hoje, avalia, há uma série de opções de marcas para quem quer se alimentar bem e contribuir para a segurança ambiental do planeta. Mas, em geral, são caras e acessíveis a uma parte pequena da população.

“A partir de uma base produtiva sólida em sucos naturais, de uma estrutura de pesquisa e desenvolvimento (P&D) experiente e de parcerias estratégicas, estamos desenhando um modelo de negócio para oferecer às pessoas uma alternativa de alimentação melhor e mais barata”, diz Wanderley. “Mas sem abrir mão do sabor e do respeito às pessoas e ao meio ambiente, ao longo do processo. A ideia é combinar o melhor da natureza com o melhor da ciência.”

A marca é hoje uma das principais do segmento de sucos em caixinhas no Brasil. Com sede em Minas Gerais, está presente em 17 estados. Em 2024, diversificou seu portfólio ao comprar a marca de sucos Do Bem, faturou R$ 400 milhões e estabeleceu como meta chegar a R$ 1 bilhão até 2027, apostando no modelo.

A expectativa, segundo Wanderley, é ancorada em tendências de mercado que apontam um aumento da preocupação com a sustentabilidade e da demanda por bebidas e alimentos mais saudáveis, ligados à qualidade de vida e ao bem-estar. Só no mercado de sucos 100% fruta, um dos segmentos em que a Tial atua, a demanda no Brasil deve passar de R$ 5,3 bilhões, em 2023, para R$ 9 bilhões, em 2028, de acordo com a Euromonitor International.

Essa tendência se coaduna com a de redução dos níveis de açúcar nas bebidas de uma forma geral. Para a consultoria Stellarix, mais pesquisas são necessárias para entender a relação entre a nova classe de adoçantes alternativos e seus efeitos a longo prazo na saúde.

De acordo com a empresa, à medida que os efeitos desses novos adoçantes na saúde intestinal e cardíaca se tornam mais claros, sua categorização será mais organizada ao longo das escalas de benefícios e eficácia.

“A redução do açúcar é uma das principais tendências da indústria de bebidas que continuará moldando as tecnologias de ingredientes, personalização e estratégias de marketing nos próximos anos”, prevê a Stellarix. “A liderança de mercado virá para aqueles que adotarem essas mudanças, alinhando a redução de açúcar a geografias, categorias de produtos e expectativas do consumidor específicas.”