O panorama brasileiro sobre o câncer ginecológico chama a atenção por seus números expressivos. Dados divulgados pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) revelam que, anualmente, cerca de 30 mil mulheres recebem esse diagnóstico, o que reforça a urgência de maior conscientização sobre essa doença silenciosa e, muitas vezes, de difícil detecção.

Entre os tumores ginecológicos mais comuns, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) aponta os de colo do útero com 16.590 novos casos no país, ovário com 6.650 e corpo uterino com 6.540, no qual ocupam a terceira, sétima e oitava posições no ranking de incidência de 2020. Também fazem parte dessa categoria os cânceres de vagina e vulva.

Para o ginecologista e obstetra Dr. Guilherme Accorsi, a preocupação é crescente no Brasil e no mundo. Ele cita uma campanha da Organização Mundial da Saúde (OMS) que estabelece metas para erradicar o câncer de colo do útero: vacinar 90% da população-alvo, garantir que 70% das mulheres façam o teste de Papanicolau ou HPV e assegurar que 90% dos casos sejam diagnosticados precocemente.



“Em países onde essas metas foram bem implementadas, a incidência do câncer de colo do útero caiu significativamente”, afirma o especialista. “Mas, no Brasil, o cenário é menos otimista, principalmente por conta das dimensões continentais do país e das desigualdades socioeconômicas”, observa.

Dr. Guilherme Accorsi também chama atenção para a relação entre o câncer e doenças crônicas, como obesidade e diabetes, que contribuem para o aumento dos casos de câncer de endométrio. “Enfrentamos dois grandes desafios: a baixa adesão às medidas preventivas e o crescimento da obesidade e diabetes”, alerta.

Prevenção como principal aliada

O investimento em medidas preventivas é uma estratégia eficaz na redução da mortalidade por câncer. Para o médico, a atenção deve ser especialmente voltada para os tipos de tumores que podem ser evitados, como é o caso do câncer do colo do útero.

Causado pela infecção do vírus HPV — uma infecção sexualmente transmissível (IST) —, esse tipo de câncer se desenvolve a partir de lesões que inicialmente são de baixo grau, mas que podem evoluir para formas mais agressivas se não forem tratadas. “Como conhecemos bem a progressão da doença, foi possível desenvolver medidas eficientes de prevenção”, ressalta.

A prevenção, segundo o especialista, em conformidade com as metas da OMS, ocorre em três níveis:

  • Primária: envolve a vacinação contra o HPV, recomendada principalmente para meninas e meninos entre nove e 14 anos, faixa etária em que a imunização é mais eficaz;
  • Secundária: inclui a realização de exames de rastreamento, como o papanicolau e o moderno teste de HPV, que detecta o DNA do vírus por meio de amostras coletadas da citologia ou líquido do colo do útero;
  • Terciária: consiste na detecção precoce do câncer já em estágio inicial, possibilitando o tratamento adequado.

Novas terapias e tecnologias no tratamento

Nos últimos anos, o tratamento dos cânceres ginecológicos evoluiu significativamente com a chegada de novos medicamentos e técnicas cirúrgicas. Segundo Dr. Guilherme Accorsi, a quimioterapia, antes a principal abordagem terapêutica, hoje divide espaço com alternativas mais modernas, como a imunoterapia.

“São as chamadas terapias-alvo, que permitem identificar mutações, expressões genéticas, expressões de antígenos e marcadores específicos nos tumores, possibilitando tratamentos alvos personalizados”, explica.

Para ele, tecnologias como a cirurgia robótica e a laparoscopia — técnicas minimamente invasivas — têm se destacado por reduzir o trauma cirúrgico, o risco de complicações (tais como sangramentos e infecções), o tempo de internação e promovem uma recuperação mais rápida. “Pacientes submetidos a essas abordagens relatam menos dor e melhor qualidade de vida no pós-operatório”, afirma.

No entanto, o médico alerta para a importância da indicação correta: “Quando mal indicadas, essas técnicas podem comprometer a eficácia do tratamento e reduzir as chances de cura e sobrevida. Mesmo os procedimentos minimamente invasivos não eliminam completamente o risco de complicações ou sequelas”, diz.

Progressos na preservação da fertilidade

O avanço da medicina também ampliou as possibilidades de preservação da fertilidade em mulheres submetidas a cirurgias para o tratamento da doença. Entre as principais técnicas disponíveis estão o congelamento de óvulos, de embriões e de tecido ovariano, conforme pontuado pelo ginecologista e obstetra.

“A escolha do método mais adequado depende de diversos fatores, como o tipo e estágio do câncer, idade da paciente e seu desejo reprodutivo”, explica o profissional. Embora existam protocolos iniciais, o tratamento deve ser individualizado. “É fundamental equilibrar a preservação da fertilidade com a segurança oncológica, considerando também alternativas como a gestação por barriga de aluguel”, acrescenta.

Humanização no cuidado oncológico

O acolhimento humanizado no atendimento médico tem papel essencial na jornada da paciente com câncer. Um cuidado centrado na pessoa, que a envolva nas decisões durante esse processo, pode contribuir para melhores soluções clínicas e maior adesão ao tratamento.

“Nesse modelo, a paciente compreende os riscos, complicações e alternativas disponíveis, participando ativamente de todas as etapas do processo terapêutico. Essa abordagem fortalece a relação médico-paciente e melhora a adesão ao tratamento”, afirma o Dr. Guilherme Accorsi.

Para garantir um atendimento verdadeiramente humanizado, o especialista reforça a importância de contar com uma equipe bem treinada e comprometida, desde a primeira consulta, passando pelos exames, internações, procedimentos cirúrgicos, até as sessões de quimioterapia e radioterapia.

“A atuação de uma equipe multiprofissional é indispensável. Enfermeiros, técnicos, fisioterapeutas, psicólogos e nutricionistas devem trabalhar de forma integrada, oferecendo suporte completo às necessidades físicas e emocionais das pacientes”, conclui.

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