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O potencial de mercado dos dados e informações que trafegam nas redes de telecomunicações

Por Yassuki Takano *

Já dura alguns anos a discussão sobre a relação entre as operadoras de telecomunicações e as chamadas “over-the-tops” (OTTs) – redes sociais, aplicativos de comunicação e de mídia, dentre outras, que prestam serviço sobre as redes de telecomunicações, sendo que muitos dos serviços oferecidos são similares aos serviços originalmente prestados pelas operadoras (como as chamadas de voz, mensagens de texto ou vídeo).

Esse (suposto) conflito tem trazido à tona diversos pontos – como captura de receita pelas OTTs com menos regulação ou necessidade de capital investido, questões de privacidade ou criptografia – e parece estar longe de terminar.

Mas existe uma outra perspectiva dessa relação que tem sido pouco explorada: a potencial simbiose entre operadoras e as over-the-top – incluindo também apps e outros parceiros tecnológicos das operadoras – em termos de captura e enriquecimento dos dados que trafegam na rede da operadora e criação de novos serviços e sua comercialização.

Muito se fala hoje sobre a valorização das empresas de tecnologia (ex. Google, Facebook, Amazon) devido à sua capacidade de capturar e analisar dados de seus usuários, de maneira a modelar e predizer comportamentos de compra, melhorar a qualidade de serviços e gerar novos negócios.



Não temos hoje no grupo dessas grandes empresas uma operadora, mas elas estão em uma posição estratégica nesse cenário, pois todo o tráfego para acessar essas gigantes digitais passa pela conectividade provida pelas operadoras.

Mais que isso, se analisarmos em detalhe a possibilidade de captura de dados de comportamento de usuários, as operadoras de telecom estão em uma posição na qual conseguiriam entender seu comportamento tanto quanto ou até melhor que as OTTs.

Tendo como premissa o respeito à privacidade dos dados, tratando de clusters de usuários e não de indivíduos, por exemplo, uma operadora consegue analisar a localização, perfil de navegação e uso de apps, audiência de canais de TV etc.

Não estaríamos exagerando ao dizer que uma operadora de telecom é atualmente o prestador de serviço mais próximo e presente na jornada diária de um indivíduo e que, portanto, teria a capacidade de entender melhor seu comportamento.

E essa cobertura se amplia ainda mais quando pensamos em possíveis parcerias de dados, seja considerando serviços já existentes, como adquirentes de cartões (que têm visibilidade de quanto foi gasto e em que ponto de venda), ou, numa perspectiva mais futurista, serviços de internet das coisas, como carros conectados, “home automation” ou outros serviços que ainda estão sendo desenvolvidos.

Enfim, a operadora se situa em uma posição privilegiada, como o elo entre diversos elementos, tornando-se uma fonte de dados e informações muito valiosos para setores como varejo, mídia, logística etc.

Alguns exemplos que podemos citar para ilustrar esses novos serviços são a análise de preferências de navegação para melhor direcionamento de advertising, ou a elaboração de mapas de calor baseados na movimentação dos usuários.

Esses serviços poderiam ser consumidos por agências de propaganda (digitais ou não) e empresas que gostariam de posicionar pontos físicos (quiosques, lojas, agências etc.) considerando o tráfego de público nas proximidades.

O mercado ainda não sabe utilizar muito bem esse novo potencial de informações, nem tampouco precifica-lo. Até porque o lado fornecedor – as operadoras e seus parceiros – ainda está em fase muito embrionária de estruturação desses serviços.

Em maior ou menor grau, as operadoras têm se movimentado para “monetizar” seus dados. E, nessa perspectiva, quanto mais OTTs, apps, parceiros de serviços, parceiros de IoT e outros estiverem no ecossistema da operadora, mais ricos serão seus dados e mais valor terão suas informações.

É uma tarefa complexa, pois envolve a consolidação de dados provenientes de inúmeras bases, a criação de novos serviços em caráter de protótipos para serem testados, além de constituir um mercado totalmente novo e uma forma totalmente diferente de as operadoras fazerem negócio.

É um exemplo típico de dilema de inovação, no qual é necessário incubar um novo modelo de negócios, inicialmente muito menor que o core business, mas com enorme potencial, e também convencer o mercado desse potencial e da viabilidade e capacidade de transformação da empresa.

Por outro lado, o mercado já atribuiu um valor muito positivo às empresas de tecnologia pela sua potencial habilidade de gerir esse grande volume de dados e transforma-los em informações de valor. A parceria entre operadoras e as OTTs, nesse contexto, parece ser uma gigantesca oportunidade.

Nessa perspectiva de enriquecimento de dados e entendimento do mercado, quanto mais apps, quanto mais parceiros, quanto mais OTTs, melhor para a operadora. E uma antiga rivalidade passa a ser vista como parceria.

Estamos diante de uma oportunidade, tão grande quanto desafiadora, que é a possibilidade de as operadoras de telecom se estruturarem para capturar, analisar e conseguir desenvolver novos serviços a partir de todo o volume de dados e informações que trafega em suas redes.

Parece ser um caminho interessante para desviar de um posicionamento como um mero tubo de conectividade, mas que também tem seus obstáculos, como o desafio de entregar os benefícios às empresas e aos usuários sem ferir aspectos de privacidade, além da complexidade de orquestrar as inúmeras áreas e parceiros.

E que lancem os dados, literalmente!

 

* Yassuki Takano é diretor de consultoria da Logicalis



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