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Stefanini: o brilho de um homem comum

Engana-se quem pensa encontrar no pulso de Marco Stefanini um Rolex de ouro, ou a última versão de um dos carros mais cobiçados do mundo em sua garagem. Tão pouco irá vê-lo desfilando pelos corredores da empresa trajando um Armani acompanhado de uma gravata de seda italiana feita sob medida.

“A indústria de consumo, decididamente, não me atrai. Não tenho barco e nem helicóptero”, surpreende o empresário, fundador e CEO global da Stefanini, uma das empresas de TI (100% brasileira) mais bem-sucedidas do mercado nacional e que já se estendeu para 34 países do planeta. Sua bandeira, portanto, é a “simplicidade”, acredite.

E também não o veja como um atleta obstinado, que joga tênis todas as manhãs, salta de asa-delta e surfa em águas havaianas. “Corro duas a três vezes por semana. Sem dias e horas marcados. Não gosto de rotinas”. Muito menos é adepto de dietas da moda. Ao contrário. “Aprecio uma boa culinária, como de tudo, glúten, lactose…sem exageros”, relata o executivo, fiel aos hábitos tradicionais, e incólume ao glamour que costuma modificar celebridades.

Vale dizer que mesmo com a proximidade construída ao longo de inúmeras entrevistas realizadas em coletivas de imprensa, esse executivo de 54 anos surpreendeu-me. Imaginava que, ao abordá-lo em seu habitat profissional, algum detalhe poderia revelar seus verdadeiros contornos.

Mas ele é, de fato, um homem comum, em uma sala comum, integrada a um espaço com inúmeros colaboradores, que, nem de longe, concede o benefício do isolamento. Uma arquitetura distante do imperioso conceito geopolítico, tão próprio de um CEO desse porte, sabemos. Foi nesse espaço que o executivo pendurou temporariamente os escudos e deixou brotar os ecos da alma.



Não, não nos prendemos à notória trajetória profissional do Stefanini, nem tão somente aos bons resultados que a empresa obteve no ano passado com faturamento de mais de 2 bilhões de reais, na contramão da crise macroeconômica. E que, apesar do cenário nebuloso, não descarta para este ano crescimento, de, no mínimo, igual aos 11%, contabilizados em 2014.

Toda performance positiva traz bons frutos… então, em 2013, arrebatou o prêmio da Ernest & Young  de Empreendedor do Ano. Ele, que mesmo antes de completar 27 anos, se aventurou a criar a Stefanini.

Filho de peixe…o talento para o empreendedorismo, segundo ele, herdou dos pais, que construíram uma pequena fábrica de utilidade doméstica. “Minha mãe trabalha até hoje. Não falta energia”. E é justamente essa energia que Stefanini busca nos profissionais que pretendem compor o seu time. “Além de transparência, visão positiva, dedicação e determinação”, completa.

Enquanto alguns se prendem ao jargão “brilho nos olhos” dos colaboradores, ele o traduz em comportamento e garra, que fazem toda a diferença, diz. Podem facilitar o ingresso nesse império, que já derrubou as fronteiras e hoje está posicionado entre as quatro empresas brasileiras que mais se internacionalizaram em 2014, de acordo com o ranking da Fundação Dom Cabral.

Certo é que não vale, apenas, tirar da manga o certificado dourado de formação em Harvard, ou exibir a etiqueta de uma boa grife para despertar o interesse desse executivo. Vale sim a ambição produtiva, e, acima de tudo, a humildade. E ele dá a dica: “O importante é sempre saber ouvir. Esse é o princípio da humildade. Você pode até mesmo não concordar com o que está sendo dito, mas é preciso ouvir”, sugere Stefanini, para quem a melhor definição de ética é “agir como se fala”.

Mas esse não é somente o princípio da humildade é, certamente, a essência para ter-se transformado em perito na arte de lidar com pessoas, seu maior patrimônio, ele diz. “Afinal, a empresa é feita por pessoas.” Por gostar de lidar com “gente”, o executivo diz não ter muita dificuldade por ser desprovido de preconceitos. “Gosto da diversidade. Não me importam sexo, religião, raça…não sou muito de padrões.” E para um bom relacionamento, ele indica a transparência. “Usar de franqueza requer uma habilidade que tive de desenvolver para não ser grosseiro. Tudo é a forma como você fala. Os extremos são ruins, temos de buscar o equilíbrio”, alerta.

A ribalta sempre desperta o interesse em saber como se chega ao topo. Quais são as dicas, os atalhos, o pulo do gato? Como se existisse uma receita de bolo para o sucesso… Mas, se você pensa assim, teria de ser geólogo! Sim, esse  empreendedor optou por geologia na década de 80, e formou-se na Universidade de São Paulo (USP).

Mas o embrião da Stefanini e o gosto pela TI começaram a se desenvolver quando agarrou a oportunidade de tornar-se trainee do Bradesco, onde adquiriu conhecimentos em processamento de dados, moldando habilidades de analista de sistemas. “Agradeço até hoje ao Bradesco.”

Estar entre as cem maiores empresas de TI do mundo, segundo a BBC News, não é por acaso. O mercado brasileiro – com tantas oscilações econômicas, cenários mutantes, muitas vezes sem explicações lógicas, que impactam o mais sólido dos planejamentos – foi e é a melhor escola para Stefanini enfrentar situações adversas e delas sair com ganhos imensuráveis no bolso e no perfil.

Dar a volta por cima, diga-se, não está apoiada em nenhum amuleto ou pajelança. “Sou absolutamente pragmático, não acredito em magia, ou em gurus esotéricos. Acredito em trabalho e na percepção por meio de muitas conversas com as pessoas”, revela Stefanini que dedica diariamente entre 12h a 14h ao trabalho. “Na verdade, uso um mix de números e feeling para guiar minhas decisões”, diz.

A jornada pesada interfere, claro, na proximidade com a família, mas o executivo não abre mão dos finais de semana, quando escolhe desfrutar com a mulher e com os dois filhos de lugares ao ar livre.  E também reserva 30 dias no ano para as férias. “Nunca sequenciais, infelizmente”, faz questão de notificar. “Mas adoro viajar com a família. É uma das minhas maiores paixões. Arrisco dizer que é o que mais gosto de fazer”, revela-se, estimando já conhecer mais de cem países pelo mundo, quando teve o presente de ter contato estreito com diferentes culturas, e lugares fora da rota hollywoodiana. “Myanmar (Birmânia, depois da independência), por exemplo,  é muito interessante. Um país do sul da Ásia Continental, que tem ao nordeste o Laos, que também já visitei”, relata.

Questionado sobre fontes de inspiração para melhor realizar o seu comando, Stefanini diz não se apegar aos chamados “Papas”, sejam de quais segmentos forem. Contudo, é um aficionado confesso por biografias. Gosta de ler sobre líderes e de conhecer a trajetória de cada um deles, em especial sobre superação. Sonho Grande, de Cristiane Correa (Saraiva), Antônio Ermírio de Moraes, de José Pastore (Planeta) e Steve Jobs, de Walter Isaacson, foram algumas destacadas por ele. E filmes no mesmo estilo como À Procura da Felicidade (The Pursuit of Happyness – no título em inglês), dirigido por Gabriele Muccino. Mas senti que no coração dele mora a admiração por Nelson Mandela e, então, os filmes que envolvem o líder estão na sua lista de preferência como Mandela (Long Walk to Freedom – no título em inglês), dirigido por Justin Chadwick, e Invictus, dirigido por Clint Eastwood.

Caso pretenda presenteá-lo com livros de autoajuda, esqueça. Ele não gosta. Mas respeita quem os use para o bem. “São cansativos e repetitivos”, sentencia.

Marco Stefanin é esse executivo de hábitos comuns que faz questão de dizer que não estudou administração e que aprendeu muito do que sabe lendo sobre pessoas e ouvindo pessoas. E mesmo sem barco, jatinho ou helicóptero, certamente, ainda vai muito longe, porque, como diz um provérbio africano: “Quer ir rápido, vá sozinho, quer ir longe, vá em grupo [pessoas…]”.



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